terça-feira, 30 de novembro de 2010

PIPA

um velho sentado na poltrona de sua sala sorrí do apresentador gordo na tv.
o velho sentado na poltrona reclama a falta de café a mesa.
o velho que reclama o café,reclama também a mulher.
o velho e sua esposa mais moça reclamam sem nem se entender.
o velho rí da tv,aprecia sua cerveja,mas com moderação (cê veja)
o velho sorri demagogo de coisas que suas vivências não lhe trouxeram
(pobre velho)
coisas que nunca adiquiriu...
o velho bebe.
o velho bate.
o velho chora.
o velho senta na mesa do bar e reclama do time.
o velho sai pra passear e reclama do tempo...
o velho ta perto do fim...nunca aprendeu á contemplar.
um outro velho do outro lado da cidade escreve sobre tudo.
está so.
está sã.
esta bem...
o velho escreve um poema que explica a vida...
o velho é tão amável quanto um urso panda
o velho é tão bonito quanto noel (papai)
o velho é careca e sorridente.
o velho tem bigodes e óculos...
escreve pra gente.
pra gente sorrí.
o que esses velhos tem em comum senão a idade?
ambos tem setenta e poucos...
a diferença é que um velho tem 70 e o outro quase 7.
um nunca leu Drummond.
o outro coitado,sem estudo,aprendeu-se sozinho nessa vida.
um feliz 'analfabeto'...que passeia anônimo pelos bosques da vida...
enquanto o velho mais velho,mais rabugento,e mais instruido,
beira triste a frente de sua tv dominical...
bebe triste sua cerveja em sua poltrona.
contempla triste sua jovem mulher vazía.
e espera a morte chegar olhando apressado o relógio do tempo;
que horas já são? pergunta ele a si mesmo.

quanto ao outro?
bem...esse velhinho não tem fim...
o sorriso.
as palavras.
as verdades.
as mentiras...
o velhinho mais menino que há...
esse sobrevive feito o vento...
voando por aí...
bem que poderia se chamar 'PIPA'
O VELHO-VOADOR MAIS FELIZ QUE HÁ...

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

sinto falta

sinto falta de fôlego
sinto pressão
sinto um gosto de pêsego.
um velho refrão.
cá eu cantando de novo meu deus...
cá eu entoando refão.
cantando poema.
por que não?
cá eu escrevendo feito louco.
vivendo feito um escritor.
sinto falta da vontade que eu tionha de ser um jogador de futebol.
menino sem chuteiras.
chuteiras sem cadarço...
um menino sem magia nos pés.
ela habitava minha infância...
minha inocência.
meu eu.
queria ser zico...
sinto falta ....
eu não sou o zico....
eu tinha sim ,magía também..
que me habitava a cabeça...
eu com meus desenhos nostálgicos...
quase um diário-poema.
sinto falta de quando vivía sem escrever..
sem sonhar...
sem me envolver...
mas quando foi isso mesmo?
hoje eu cheio de 'clicks'
cheio de 'tlacks"
permaneço o mesmo enquanto a banda toca...
enquanto o mundo é copa.
enquanto o povo respira futebol
eu queria ser atacante dos bons...
virei por fim...
um jovem compositor de devaneios.
sinto falta de algo que perdi nesse caminho...
sinto falta.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

minino;

Minino...A vida começou agora,
você certamente vai conhecer a dor.
a dor do amor.
a dor de não poder amar quem se quer.
a dor da vida.
a dor de amar demais
o amor minino,é algo que não se pode simplesmente explicar assim.
num poema,numas poucas letras
é algo complexo.
mexe com partes de nosso corpo e alma que jamais entenderemos direito suas razões.
ensaio pra você
a dor da morte.
das escolhas dificeis.
e é sobre essas escolhas dificeis que quero lhe falar.
do perigo de decidir.
e do quão é importante fazê-lo.
a decisão é sublime.
a vida é de fato algo sublime.
é raro aqueles que superam com grandeza a dor.
causada por uma coisa interrompida.
por um plano mal elaborado
mal realizado.
um tiro torto á se lamentar.
minino,a boca ainda vai esquentar tanto.
o mundo ferve só poderia a boca estar á esta temperatura que se encontra.
o mundo é urgente,urgente de mais.
e você na sua impaciência de mminino,ousou crescer.
abandonou o que mais te tornava homem.
a meniniçe.
acontece,menino que é presciso tomar decisões
e que o muro alto onde você subiu,é alto demais pra simplesmente ficar em cima dele
ele -o muro- tende sempre á crescer,te deixando mais e mais altinho.
no topo.
porém -apartidário. e o mundo tem também seus partidos.
suas posições.
escolha a vida enquanto ela resiste.
enquanto esta do seu lado...
ah,minino.
minino,tudo que você sempre quis era crescer.
e agora queres voltar á ser criança.
minino.
minininho...
chorar não resolve.mas ajuda.
atrapalha.
meninos não choram..
homens sim.
choram e muito.
tudo o que eu queria minino era lágrimas.
era essa coragem para soltar o berro....alto
e junto com ele lavar minha alma.
meu pulmão.
meu coração cansado de 'jovem homem'
sou como você minino.
igualmente feliz e perdido.
igualmente minnino e homem.
fã.
minino,toca essa malandragem pra frente.
tuas mentiras não anulam nada.
so te saúdam como minino malino que és.
seja isso.
viva isso.
que eu,Bem eu,serei também minino.
de barba e planos.
com outros sonhos sobre a mesa.
serei minino com certeza.
mas você.
-mesmo que não seja em mim-
um dia há de crescer.
e deves por fim aprender.
as regras loucas que regem a vida....

ser minino dói menos.
mas permanecer minino doi infinitamente mais.
de modo que ser homem é demasiadamente urgente
para viver direito esses dias dificeis que você não consegue compreender...
vai cuidar de brincar de pião menino...
isso aqui ainda não é pra você...

debaixo de meu chapéu.

'azul e branco da cor daquele céu...'
idéia solta á cantarolar.
paranóia urbana marginal.
cabelos engranhados
idéias sustenidas mirabolantes.
quero eu conquistar o mundo?
quero eu me achar nele.
meu chapéu.
fui na espanha buscar meu chapéu;
fui no crato.
na canoa.
o chapéu era meu e só eu sei o quanto se adequava á minha pequena cabeça.
cabeça grande.
como a de um dinossauro.
o que mais há debaixo desse boné colorido?
dessa touca;
desse gorro.
o inseparável medo da calvice;
o assanhar de cabelos.
as idéias condensadas
por baixo desse esconde-teto.

o que há em minha mente que o chapéu não cobre?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

um silêncio.

e quando eu não puder escrever?
quando não houver palavra que explique?
voz que resolva?
grito que silencie?
afago capaz de acalmar?
quando não houver rima?
nem verso?
nem meus costumeiros deboches?
quando for dormir o poeta e acordar o menino?
e quando o menino chorar?
cadê o pai do menino?
cade a mãe do rapaz?
cade por fim,o rapaz!?
perdido em pensamentos.
perdido incoerentemente.
em fuga.

e quando faltar coragem?
faltar vontade?
e o medo transbordar?
a vida desmandando coisas.
as coisas debandando em mágoas.
e quando o tempo acabar,
passou.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

DE REPENTE É ISTO.



Para Maria da Graça


Quando ela chegou à idade avançada de 15 anos eu lhe dei de presente o livro Alice no País das Maravilhas.

Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti. Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucuras. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade. A realidade, Maria, é louca.

Nem o papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade, Dinah, já comeste um morcego"?

Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é o lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.

A sozinhez (esquece esta palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. "A porta do poço!". Só as criaturas humanas, nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados, conseguem abrir uma porta bem fechada e vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.

Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e tens a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências.

Quando Alice comeu o bolo, e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece geralmente às pessoas que comem bolo.

Maria, há uma sabedoria social ou de bolos; nem toda sabedoria tem de ser séria ou profunda.

A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon!" Pois viver é falar de acordo em casa de enforcado. Por isso te digo para a tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostaria de gatos se fosse eu?"

Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados, todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os corredores chegam exausto a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! Mas quem ganhou?" É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não conseguirá saber quem venceu. Para o bolso: se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupes com a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre onde quiseres, ganhaste.

Disse o ratinho: "Minha história é longa e triste!" Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance." Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois um romance é só o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energicamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!" Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.

Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo". Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crecer novamente.

E escuta está parábola perfeita: Alice tinha diminuíndo tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida toda uma quantidade imensa de camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem-disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nosso domínio disfarçado de camundongo. Mas como tomar o pequeno por grande e o grande por queno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom humor. Toda pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa médica para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixa preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de sofrimento ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.

Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um um lago, pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas".

Conclusão: a própria dor tem a sua medida. É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.


UM Trecho completo do sr. P.M.C.